O Eric do título são dois. Eric Bishop, carteiro de profissão, em momento de aguda crise pessoal, arrisca-se a perder o controlo da família e do emprego por não se conseguir reconciliar com algumas das opções, nomeadamente emocionais, que fez na vida, e porque o seu núcleo familiar está ameaçado pelas ligações a um gang de mafiosos locais. Nas suas horas de maior aflição, Eric volta-se para o seu herói à procura de consolo e conselho, e cujo seja o famoso jogador francês Eric Cantona, presente nas paredes do quarto de Bishop na forma de um poster gigantesco. Bem, isto até ao dia em que Cantona lui-même aparece no quarto, e os dois Erics começam uma profícua colaboração no sentido de puxar para cima a vida de Bishop, por entre partilha de ganzas, cervejas, rondas de entrega de correio, e solos de trompete.
Como disse, este toque de irrealismo funciona como parábola acerca dos benefícios da amizade e de como só conseguimos realmente progredir na vida com a ajuda dos outros, nomeadamente dos amigos e da família. O argumento do filme esforça-se, com gozo evidente, por trazer para a vida as máximas aplicáveis ao futebol, e muita da eficácia do filme vive indubitavelmente da presença em ecrã de Cantona, num registo sóbrio mas cheio de um humor auto-dirigido, ou seja um herói, ele que foi considerado o melhor jogador de sempre da história do Manchester United, para não ser levado demasiado a sério.
Mas se é verdade que a presença de Eric Cantona é o que dá sentido ao filme, nunca o protagonismo é roubado ao verdadeiro herói de serviço, e o filme nunca deixa de existir para, e em função de Eric Bishop. E esta capacidade de nunca deixar Bishop empalidecer na presença de Cantona deve-se muito ao trabalho do actor Steve Evets, que está praticamente sempre em cena e nunca deixa cair, nem o filme nem a adesão do espectador à sua história extraordinária de homem comum.