Mas tenho de confessar que o concerto me decepcionou um pouco. Achei-o muito frio, muito cerebral. Nada a dizer da técnica, da estrutura dos arranjos, do entrosamento dos músicos, da complexidade e do desenvolvimento dos temas. Até me pareceu que a versão de She’s Leaving Home, dos Beattles, foi mais conseguida do que a que está no álbum. Não vou ao ponto de achar que o Trio estava em velocidade de cruzeiro, a debitar com competência uma fórmula segura. Isso é sempre muito difícil no jazz, que vive muito do momento. E não me pareceu o caso de cansaço ou falta de entrega, até porque o concerto decorreu num acento muito ‘cool’, que tem tudo a ver com a música do BM. Além disso, o músico foi generoso, e respondeu ao entusiasmo do público com 3 encores (um deles com 2 temas) e uma vinda adicional ao palco.
Apenas me queixo de falta de emoção, de estarmos perante aquilo que parece, mesmo que não o seja, um momento especial, sentirmos que houve ali qualquer coisa de único e irrepetível. É isso que esperamos, que o músico consiga esse milagre de cada um dos espectadores sentir que é para si que o concerto está a ser dado. Talvez isso tenha a ver com o ritmo frenético de concertos quase diários que o BM está a fazer neste tour europeu, que estraga sempre um pouco o risco e a aventura que é fazer um concerto.
Eu sei que a comparação não é muito adequada, porque há jazz e jazz, e que provavelmente mais do que uma injustiça isto vai soar a disparate, mas a verdade é que há mais emoção, mais sentimento, mais envolvência quando o Bernardo Sassetti carrega numa tecla, do que durante as duas horas que durou esta prestação do Brad Mehldau.