millennium
Acabei ontem a leitura do terceiro (e último) volume da trilogia Millennium, de Stieg Larsson, A Rainha no Palácio das Correntes de Ar (ou qualquer coisa próximo disto, que estes romances do Larsson têm títulos quase tão compridos como eles próprios). Foi engraçado, ler estes livros assim de enfiada, nomeadamente porque a narrativa dos livros é absorvente, e uma pessoa parece que anda sempre a sentir uma vontade feita de ansiedade, em retomar depressa a leitura. Este vício de leitura, que nos faz perder um pouco a noção do tempo quando estamos embrenhados nas páginas, é um prazer delicioso, e que os livros de Larsson nos devolvem na perfeição.
Pessoalmente, o meu favorito foi o primeiro. Nem tanto, mas também, pela novidade, mas porque achei o mais bem construído, um romance estruturado, com princípio, meio e fim, apesar de ter algumas notas frágeis, mas que se percebem depois da leitura conjunta da série. Os segundo e terceiro volume completam-se, e a técnica narrativa é um bocadinho parecida com a das novelas, em que há um encadear de situações e peripécias, que fazem a história evoluir mas mantendo sempre uma certa continuidade. Também me distraiu um pouco a profusão de personagens nestes dois volumes, apesar do autor se preocupar em ir contextualizando, nomeadamente quando essas personagens secundárias estão ausentes durante muitas páginas.
Há evidentemente um lado demasiado tecnicista neste tipo de romances, como se eles fossem escritos segundo um protocolo que lhes garante o efeito de galvanização dos leitores. O que tem de boa a escrita de Stieg Larsson é que apesar de isso ser mais ou menos evidente, os livros mantêm uma espontaneidade, uma frescura e até uma certa ingenuidade, que nos fazem aderir com entusiasmo e com gozo. É literatura recreativa, de divertimento, a chamada leitura de aeroporto (ou de praia, enfim), mas quando ela é bem feita e quando não explora as fragilidades dos seus leitores, nada contra, antes pelo contrário.
Como eu sou um bocado sugestionável, mais com os livros do que com o cinema por exemplo, foram quatro semanas engraçadas, em que andei sempre um pouco imbuído do espírito 'millennium', com a sua atmosfera nórdica cinzenta e pesada (tão contrastante com esta nossa luminosidade estival), e com uma dupla de personagens muito bem esgalhada, Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist, suficientemente humanos para suscitarem a nossa adesão, mas já distantes do comum para poderem ganhar um certo estofo de super-heróis.