sonho de felicidade
Estava ali a folhear a edição deste mês da revista Ler e na última página o jornalista Ferreira Fernandes, de quem eu gosto muito de ler as crónicas que há muitos anos vem escrevendo em vários jornais e revistas, na rubrica Ponto Final, responde que a sua ideia de felicidade é “Angola, anos 50”. Na pergunta anterior, o que não está no seu BI e devia estar, tinha respondido que “a naturalidade e a nacionalidade são: Angola, anos 50. Um país que já não existe”.
Percebo perfeitamente o que o FF quer dizer, ideia que, de resto, já lhe tinha lido expressa de variadas maneiras, em muitos dos seus textos. É uma ideia atravessada pelo saudosismo mas que não paralisa nele. A saudade de uma vivência que foi demasiado intensa e que pura e simplesmente desapareceu, pelo que é impossível confrontarmos a memória, a emoção, o sentimento, com alguma coisa que exista fora do nosso espírito, da nossa mente. Chega a ser dolorosa esta impossibilidade. Um pouco (digo eu, que conheço pouco) como as dores que um corredor sente nas suas pernas amputadas. Como amar o fantasma da nossa felicidade.
Quando li este trecho da entrevista do FF, raciocinei, de imediato, e seguindo a mesma linha, que se eu escolhesse a minha ideia de felicidade seria antes Moçambique, Janeiro de 2003. Poucas vezes na vida senti tão intensamente como nessas quase três semanas em que regressei à terra onde nasci e aos lugares da minha infância e pré-adolescência. Acho que já escrevi (mais do que uma vez) aqui sobre isso, mas se me repito é só porque, por muito que pense sobre o assunto e escreva sobre ele, a questão nunca está definitivamente arrumada.
Seja como for, são preciosas para mim as recordações desses dias. A sensação de se chegar a um sítio que não conhecíamos mas ao qual pertencíamos mesmo sem saber e o conhecer. A sensação de que alguma coisa em nós se completou, de que passaram a fazer sentido uma série de emoções que não conseguíamos, antes, definir, nem nomear, que apenas sentíamos como um vazio.
Acho que tive, e para voltar às respostas de FF na Ler, muita sorte, porque saí de Moçambique demasiado novo para de facto ter a noção de que estava a perder alguma coisa. E quando voltei, não foi à procura do que tinha perdido, nem sequer tinha a expectativa de encontrar fosse o que fosse. Mas lembro-me de que nos dias que antecederam a viagem, sonhava recorrentemente com o momento em que ia ver de novo a casa onde tinha passado a infância, em Nampula. E foi por isso que essa viagem foi tão importante: porque encontrei o que não procurava, encontrei o que me faltava sem eu saber que me faltava.
(dedico este texto à IO, do Chuinga; por razões que ela intuirá)
Percebo perfeitamente o que o FF quer dizer, ideia que, de resto, já lhe tinha lido expressa de variadas maneiras, em muitos dos seus textos. É uma ideia atravessada pelo saudosismo mas que não paralisa nele. A saudade de uma vivência que foi demasiado intensa e que pura e simplesmente desapareceu, pelo que é impossível confrontarmos a memória, a emoção, o sentimento, com alguma coisa que exista fora do nosso espírito, da nossa mente. Chega a ser dolorosa esta impossibilidade. Um pouco (digo eu, que conheço pouco) como as dores que um corredor sente nas suas pernas amputadas. Como amar o fantasma da nossa felicidade.
Quando li este trecho da entrevista do FF, raciocinei, de imediato, e seguindo a mesma linha, que se eu escolhesse a minha ideia de felicidade seria antes Moçambique, Janeiro de 2003. Poucas vezes na vida senti tão intensamente como nessas quase três semanas em que regressei à terra onde nasci e aos lugares da minha infância e pré-adolescência. Acho que já escrevi (mais do que uma vez) aqui sobre isso, mas se me repito é só porque, por muito que pense sobre o assunto e escreva sobre ele, a questão nunca está definitivamente arrumada.
Seja como for, são preciosas para mim as recordações desses dias. A sensação de se chegar a um sítio que não conhecíamos mas ao qual pertencíamos mesmo sem saber e o conhecer. A sensação de que alguma coisa em nós se completou, de que passaram a fazer sentido uma série de emoções que não conseguíamos, antes, definir, nem nomear, que apenas sentíamos como um vazio.
Acho que tive, e para voltar às respostas de FF na Ler, muita sorte, porque saí de Moçambique demasiado novo para de facto ter a noção de que estava a perder alguma coisa. E quando voltei, não foi à procura do que tinha perdido, nem sequer tinha a expectativa de encontrar fosse o que fosse. Mas lembro-me de que nos dias que antecederam a viagem, sonhava recorrentemente com o momento em que ia ver de novo a casa onde tinha passado a infância, em Nampula. E foi por isso que essa viagem foi tão importante: porque encontrei o que não procurava, encontrei o que me faltava sem eu saber que me faltava.
(dedico este texto à IO, do Chuinga; por razões que ela intuirá)