os que nasceram mais tarde
«Ao mesmo tempo, pergunto-me algo que já então começara a perguntar-me: como devia e como deve fazer a minha geração, a dos que nasceram mais tarde, acerca das informações que recebíamos sobre os horrores do extermínio dos judeus? Não devemos aspirar a compreender o que é incompreensível, nem temos o direito de comparar o que é incomparável, nem de fazer perguntas, porque aquele que pergunta, ainda que não ponha em dúvida o horror, torna-o objecto de comunicação em vez de o assumir como algo perante o qual só se pode emudecer de espanto, de vergonha e de culpa. Devemos apenas calar-nos, espantados, envergonhados e culpados? Para quê? Não que tivesse simplesmente perdido o entusiasmo pela revisão e pelo esclarecimento com que havia participado no seminário. Mas pergunto-me se as coisas deviam ser assim: uns poucos, condenados e castigados, e nós, a geração seguinte, emudecida de espanto, de vergonha e de culpa.»
- Bernhard Schlink, O LEITOR (Edições Asa)
- Bernhard Schlink, O LEITOR (Edições Asa)