a hora mais cinzenta
ASSIM
Assim por muito mais e muito menos
Assim por heroísmo e cobardia.
Assim a tarde a noite no momento
Assim pensar em mim quando vivias.
Assim os dedos longos nos cabelos
Dos mortos abraçados e cativos.
Assim esta miséria de estar viva
E não saber estar viva quando vivo.
Assim nas brancas árvores o tempo
Assim ter acabado o meu destino
E ler-me noutros versos, noutros nomes
Assim desconhecer aonde habito.
Assim por muito mais e muito menos
Se acaba, em vida, a vida ao suicida.
Assim por ser a hora mais cinzenta,
O desamparo assim da minha vida.
- Natércia Freire, OS INTRUSOS