farenheit 9/11 + silmido
Cheguei há bocado do Porto, onde vi dois filmes. Ah, também vi o Quaresma, no Capa Negra. É sempre um pouco decepcionante ver jogadores da bola ao vivo, perdem aquele ar forte e poderoso que têm fardados dentro da arena. Cá fora são sempre a atirar para o enfezado. Mesmo o Quaresma, que é mais matulão do que a generalidade da rapaziada da bola. Ainda estive para lhe ir dizer duas verdades acerca dos jogadores que traem os clubes que os formaram para irem jogar para os adversários, mas depois como houve esta história do Pinto da Costa despedir o treinador italiano que acabou de contratar, eu até estou numa pró-fêcêpê e tudo, e por isso achei que não valia a pena ir lá desancar no rapaz. Quanto aos filmes.
Eu não há meio de simpatizar com o Michael Moore. Quer dizer, eu até sou totalmente anti-Bush e se dependesse de mim ele sair da Casa Branca até me naturalizava americano, mas não suporto o cinema propaganda do MM. Farenheit 9/11 é um longo filme publicitário, de publicidade negativa é claro, em que o MM não se limita a apresentar um assunto sob uma perspectiva pessoal. Não, ele manipula as imagens, o que não significa que manipule os factos, mas usa as imagens para provocar determinado estado emocional no espectador e assim persuadi-lo a votar anti-Bush. Ok, já sabemos, é por uma boa causa, mas há limites para a decência e os fins não justificam os meios quando há valores e princípios, e é em nome desses valores e princípios que os combates devem ser travados. Toda as sequências com a mãe do rapaz que morre na guerra é verdadeiramente pornográfica, aquilo é obsceno de tão manipulador, de tão primário. Além disso, irrita-me, do ponto de vista cinematográfico é claro, estar a ver um filme que não foi feito para mim. Sim, o filme do MM não faz sentido aos olhos de um europeu, não traz novidades, não acrescenta nada ao debate. O filme destina-se inteiramente ao público americano, e, dentro deste, ao que vai votar nas eleições no próximo mês de Novembro. Até nisso, por ser um filme construído em função de um determinado público ‘target’, se assemelha com um filme publicitário.
Está bem que eu me diverti a ver o filme, e até achei graça às cenas em que ele mete o Bush a ridículo. Mas o facto de eu me rir com uma caricatura não significa que o desenho esteja bem feito. A maior parte das piadas do filme roçam a boçalidade. Para mim, nem faz sentido tentar analisar este filme como cinema documental. Não, MM não faz documentários, faz filmes de propaganda. E não é por eu até concordar com as suas opiniões em relação ao presidente dos EUA, que vou dizer que o filme é bom. Não é, e pronto, está tudo dito.
O outro filme visto foi uma obra inesperada, da Coreia do Sul, chamada Silmido, e que conta a história verídica de um batalhão que foi formado no final dos anos 60 na Coreia do Sul, constituído por desertores políticos da Coreia do Norte e por criminosos de delito comum, para ir a Pnongyang matar o Kim Il Sung. O problema é que, com a normalização das relações entre as duas Coreias, o grupo torna-se mais do que obsoleto, perigoso, e a ordem chega aos oficiais que treinaram os soldados, para os eliminarem. O grande interesse do filme reside não tanto na abordagem do conflito entre as duas Coreias, mas sobretudo na reflexão sobre o própria Coreia do Sul, sobre os seus traumas e os seus fantasmas, sobre as marcas dolorosas deixadas pelo regime de ditadura militar sob que viveu a metade sul do país dividido pelo paralelo 38, enquanto a metade norte vivia, e ainda vive, sob a égide do totalitarismo comunista.
Infelizmente, o filme foi produzido no seio da florescente e vibrante indústria cinematográfica sul-coreana, o que contagia o filme com as marcas do cinema de acção de pendor ‘Rambo’, e faz desviar, com muita facilidade, as atenções do espectador para as cenas de pancadaria, em detrimento de um reflexão mais séria e consequente dos temas mais interessantes do filme. Mas, pelo interesse destes temas, e pela ocasião rara de ver cinema de paragens mais raras nas salas portuguesas, vale muito a pena ir ver este filme.
Só para dizer que ontem à noite fui à Figueira e estive numa coisa que se chama Figueira Folia que, basicamente, é uma festa brasileira, com samba, trio eléctrico, caipirinhas, Brahma e outras especialidades tropicais. Nunca tinha visto tantos brasileiros juntos em Portugal, havia alturas em que só se ouvia falar brasileiro. Ó pá, tanto gajo bom, caraças, aqueles meninos todos descascados com os corpinhos malhados ali a dar à anquinha e a mexer os bracinhos. Além disso, fez-me ter saudades do Rio, do ‘ambiente’ das ruas, e dos amigos brasileiros.
Também fui ao piano bar do Casino que é a coisa mais deliciosamente ‘demodé’ – variante classe A decadente, que se pode imaginar. As bicas custam um euro. Olaré. Mas vá lá, estava lá um mulato que cantou o ‘borbujas de amor’ e ficou tudo perdoado.
Eu não há meio de simpatizar com o Michael Moore. Quer dizer, eu até sou totalmente anti-Bush e se dependesse de mim ele sair da Casa Branca até me naturalizava americano, mas não suporto o cinema propaganda do MM. Farenheit 9/11 é um longo filme publicitário, de publicidade negativa é claro, em que o MM não se limita a apresentar um assunto sob uma perspectiva pessoal. Não, ele manipula as imagens, o que não significa que manipule os factos, mas usa as imagens para provocar determinado estado emocional no espectador e assim persuadi-lo a votar anti-Bush. Ok, já sabemos, é por uma boa causa, mas há limites para a decência e os fins não justificam os meios quando há valores e princípios, e é em nome desses valores e princípios que os combates devem ser travados. Toda as sequências com a mãe do rapaz que morre na guerra é verdadeiramente pornográfica, aquilo é obsceno de tão manipulador, de tão primário. Além disso, irrita-me, do ponto de vista cinematográfico é claro, estar a ver um filme que não foi feito para mim. Sim, o filme do MM não faz sentido aos olhos de um europeu, não traz novidades, não acrescenta nada ao debate. O filme destina-se inteiramente ao público americano, e, dentro deste, ao que vai votar nas eleições no próximo mês de Novembro. Até nisso, por ser um filme construído em função de um determinado público ‘target’, se assemelha com um filme publicitário.
Está bem que eu me diverti a ver o filme, e até achei graça às cenas em que ele mete o Bush a ridículo. Mas o facto de eu me rir com uma caricatura não significa que o desenho esteja bem feito. A maior parte das piadas do filme roçam a boçalidade. Para mim, nem faz sentido tentar analisar este filme como cinema documental. Não, MM não faz documentários, faz filmes de propaganda. E não é por eu até concordar com as suas opiniões em relação ao presidente dos EUA, que vou dizer que o filme é bom. Não é, e pronto, está tudo dito.
O outro filme visto foi uma obra inesperada, da Coreia do Sul, chamada Silmido, e que conta a história verídica de um batalhão que foi formado no final dos anos 60 na Coreia do Sul, constituído por desertores políticos da Coreia do Norte e por criminosos de delito comum, para ir a Pnongyang matar o Kim Il Sung. O problema é que, com a normalização das relações entre as duas Coreias, o grupo torna-se mais do que obsoleto, perigoso, e a ordem chega aos oficiais que treinaram os soldados, para os eliminarem. O grande interesse do filme reside não tanto na abordagem do conflito entre as duas Coreias, mas sobretudo na reflexão sobre o própria Coreia do Sul, sobre os seus traumas e os seus fantasmas, sobre as marcas dolorosas deixadas pelo regime de ditadura militar sob que viveu a metade sul do país dividido pelo paralelo 38, enquanto a metade norte vivia, e ainda vive, sob a égide do totalitarismo comunista.
Infelizmente, o filme foi produzido no seio da florescente e vibrante indústria cinematográfica sul-coreana, o que contagia o filme com as marcas do cinema de acção de pendor ‘Rambo’, e faz desviar, com muita facilidade, as atenções do espectador para as cenas de pancadaria, em detrimento de um reflexão mais séria e consequente dos temas mais interessantes do filme. Mas, pelo interesse destes temas, e pela ocasião rara de ver cinema de paragens mais raras nas salas portuguesas, vale muito a pena ir ver este filme.
Só para dizer que ontem à noite fui à Figueira e estive numa coisa que se chama Figueira Folia que, basicamente, é uma festa brasileira, com samba, trio eléctrico, caipirinhas, Brahma e outras especialidades tropicais. Nunca tinha visto tantos brasileiros juntos em Portugal, havia alturas em que só se ouvia falar brasileiro. Ó pá, tanto gajo bom, caraças, aqueles meninos todos descascados com os corpinhos malhados ali a dar à anquinha e a mexer os bracinhos. Além disso, fez-me ter saudades do Rio, do ‘ambiente’ das ruas, e dos amigos brasileiros.
Também fui ao piano bar do Casino que é a coisa mais deliciosamente ‘demodé’ – variante classe A decadente, que se pode imaginar. As bicas custam um euro. Olaré. Mas vá lá, estava lá um mulato que cantou o ‘borbujas de amor’ e ficou tudo perdoado.